terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Hoje terias 69 anos



A minha Mãe, que tinha o nome mais enigmático do mundo, faria hoje 69 anos. Há quase 5 meses que se fundiu com o Infinit∞, e o meu coração continua aos meus pés, despedaçado em 1000 cacos. Quero começar a colar os 999 fragmentos cardíacos que me restam, sabendo que jamais conseguirei reconstruir o puzzle, porque faltará para sempre uma peça. Esse é o preço de estarmos vivos...  assistirmos ao contínuo desaparecimento daqueles que amamos. Mas ainda não consegui sequer começar essa árdua tarefa... Há demasiadas coisas que têm de ser clarificadas nesta tragédia de contornos muito desfocados. Demasiadas pontas soltas que nos vergastam o espírito, puxadas e empurradas ao ritmo dos ventos desta tempestade que ainda não passou. Demasiadas pessoas e organismos que não fizeram a sua parte, ou porque não quiseram, ou porque esqueceram o Juramento de Hipócrates, ou porque não puderam (que vai dar ao mesmo, porque há sempre o lívre arbítrio... pelo menos eu ainda acredito nisso) encurralados que foram por políticas de austeridade desumanas contra aqueles a quem um dia um "digníssimo" deputado do PSD chamou de Peste Grisalha (se mesmo assim não acreditam, podem ler o maldito artigo aqui, pese o facto de todos os esforços terem sido feitos para fazer desaparecê-lo... Lembrem-se dos conselhos que dão aos vosso filhos, tudo o que cai na net, fica lá para sempre) e que cada vez mais são um fardo para esta merda de sociedade. Desculpem a crueza da palavra, mas acreditem, é a mais suave que encontrei para definir esta coisa indefinível em que nos tornámos, porque até nas tribos mais "atrasadas", "pouco evoluídas" e "primitivas", que ainda vão resistindo a muito custo à imparável "evolução" da nossa sociedade (as aspas não são incidentais), sabem que os anciãos são, tal como os mais jovens, uma mais-valia incontornável na sobrevivência, no fortalecimento do tecido social e na sustentabilidade de uma sociedade. Os primeiros pela sensatez que a experiência de vida lhes deu, fonte de uma vivência que deveria sempre ser tida em conta nem que seja para depois ser melhorada, aprimorada, reinterpretada pelos segundos, cuja coragem e força anímica os torna ávidos de enfrentar novos desafios e quebrar paradigmas da geração anterior. É na dinâmica desta bipolaridade que encontraremos um desenvolvimento social sustentável. Ao fim e ao cabo, cada nova geração olha para o mundo sentada no ombros de gigantes, que não sai mais do que todos aqueles que os precederam.


Mas um dia, quem sabe, se tudo isto não irá ser clarificado.

Parabéns Mãe... onde quer que estejas. Isso não é importante porque no Infinit∞, todos os pontos são o seu centro, e por isso mesmo, estarás infinitamente perto de mim.




1 comentário:

xini disse...

Como eu entendo essa dor... e como eu partilho esse sentimento .. e a impotencia de não conseguir comprovar nada e de não poder trazer a minha avó de volta... uma coisa é certa nunca mais nada será igual... e se fosse a mãe ou avó deles será que agiam igual??? Um beijinho e muita força.. dizem que o tempo nos vai curando.. a mim só me tem aumentado a dor..

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